Roberto Segre, 1991
“América Latina fim do Milênio” trata do “desenvolvimento econômico, social e cultural da América Latina e a construção do espaço urbano e rural. Ou seja, a integração das obras “artísticas” ao processo complexo de produção geral do ambiente artificial e o relacionamento das distintas escalas do desenho, desde o território até o objeto artesanal ou industrial, numa tentativa de atingir uma visão globalizante identificada com o conceito de desenho urbano.” E mais “o debate sobre os significados de modernidade, identidade, tradição, cosmopolitismo e vernáculo não passa primordialmente pelos termos da expressão arquitetônica, pelo contexto social e econômico, ou seja pelas profundas contradições de classe ou pelo entrave ao desenvolvimento que a divida externa e a dependência para com os países industrialmente desenvolvidos constituem”. Então, o último “aspecto entre o projeto profissional e assimilação popular dos modelos da “alta” cultura, assim como a importância social das obras realizadas. Os habitantes das cidades latino-americanas não necessitam apenas de símbolos monumentais, mas, essen-cialmente de habitações, serviços e infra-estrutura técnicas que permitam melhorar a qualidade de vida das diferentes camadas sociais”.
Roberto Segre desenvolve um breve histórico da América Latina, passando pelos antecedentes históricos: 1) a complexidades do universo sócio-econômico; 2) a herança do período colonial; 3) esquema urbano (a trama); 4) o traçado viário; 5) os espaços públicos, semi-públicos e privados; 6) o sistema simbólico. Desta forma, estabelece não uma apologia simbólica, mas uma ambientação que não pode apagar mais de 400 anos de história.
A partir daí caracteriza o “entorno produtivo da dependência” analisando, as premissas conceituais, o entorno urbano e rural na produção da colônia, a renovação tecnológica das estruturas industriais (que levou ao desenvolvimento dos primórdios do hábitat proletário). Em resumo, o processo de industrialização da América Latina cria uma ruptura radical entre o hábitat rural e o urbano [proletários e camponeses]. O resultado desse processo são as construções dos primeiros conjuntos habitacionais.
No capitulo 5, Segre, desenvolve o tema da “tradição e renovação na arquitetura neocolonial”, analisando seus fundamentos teórico; a relação da arquitetura com a ideologia (Pág. 125); as contradições entre forma e conteúdo. Na analise dos componentes cultos e populares na arquitetura vernácula, Segre, cita Wright como exemplo de residências neocoloniais. No Caribe (Republica Dominicana e San Juan) a influência será percebida nas residências da classe média.
“A síntese entre a corrente neocolonial, as tradições vernáculas locais ou assimiladas através da experiência norte-americana e as inovações formais e espaciais do movimento moderno constitui uma das alternativas fundamentais da arquitetura moderna na América Latina, que conseguiu dar formas a elementos da sua própria identidade cultural ambiental”. [Lucio Costa, Rino Levi, Zanine, Severiano Mário Porto, são exemplo deste momento].
Depois da 2ª. Guerra, passaremos pela etapa dos grandes planos, como plano diretor de Buenos Aires, Havana, Cidade dos Motores-Brasil, Plano Diretor de Bogotá, projetos que seguiam as orientações do CIAM e da Carta de Atenas. Até chegar a “Brasília e a transformação do mito urbano” que conclui dizendo “hoje é indispensável estudar esse fenômeno e encontrar o ponto de articulação entre ação profissional e a ação espontânea da população, porque é impossível projetar uma cidade a partir de uma definição precisa de todos os seus componentes arquitetônicos, sem graus de liberdade para os usuários. Este é o problema que se deve enfrentar, em nossa realidade latino-americana, para encarar o desafio do século XXI: o vinculo entre projetistas e usuários, entre o “saber” profissional e o “saber” popular”.
Por fim, no capitulo 8, Segre define célula [residência] “como a dimensão individual da escala urbana”, analisando os valores simbólicos e funcionais, o conteúdo estético da habitação, a dimensão continental da pobreza, a integração da célula ao contexto urbano, portanto, “a célula original da cabana vitruviana integrou-se à cidade, é parte dela, e ao mesmo tempo, participante da riqueza expressiva de nossa cultura contemporânea. Já não é manifestação egocêntrica de um grupo social, a introversão segregativa do núcleo familiar na lonjura do subúrbio. A célula converte-se num fragmento multiplicado da estrutura urbana, no componente integrador da função habitar.” Completando, a isso, o capitulo 9, que diz respeito as estruturas do hábitat social. Portanto, a habitação como configuradora da trama urbana, até a construção da cidade alternativa. Em que “Essa atitude demonstra a imperiosa necessidade de chegar ao ponto de encontro entre o novo e o velho, entre tradição e inovação, a fim de conter a dinâmica dialética da vida cotidiana”, ao mesmo tempo em que esse movimento se dá é necessário recuperar os centros históricos das cidades.