sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Resenha do livro "Urbanismo Rural"

José Geraldo da Cunha Camargo,1972.

O autor caracteriza o problema do êxodo rural como um dois problemas do fim do século e que deve ser enfrentado. Para isso identifica três tipos de adensamento populacional: 1) Áreas urbanas super-povoadas; 2) Zonas rurais densamente povoadas; 3) Zonas rurais pouco povoadas. Discorre, também, sobre o Planejamento para essas três densidades. Ou seja, para o regulamento das grandes cidades, para o crescimento ordenado e sua legislação e o planejamento urbano-rural e sua legislação.

O trabalho se debruça sobre o Urbanismo Rural. Seu planejamento físico e espacial, e sócio cultural. Construindo uma hierarquização dos núcleos urbanos no meio rural. “Para que o homem do campo não fuja para a cidade, devemos “trazer” a “cidade” para o campo, criando núcleos urbanos rurais”.

Para isso traça um roteiro de como implementar esses núcleos. A forma com que o autor trata da hierarquização se expressa a partir da relação entre as Agrovilas, Agrópolis e Rurópolis, criando uma rede entre elas e as cidades mais próximas. O livro é uma cartilha de implementação dessa proposta.

Resenha do livro "Planejamento Físico e Organização Espacial na Colonização de Terras"

Jacob O. Maos, 1978.
Jacob Maos disserta sobre a colonização de terras, onde “a reparação arbitrária do racional relativo à organização espacial da colonização de terras e seu subseqüente componente econômico têm a atenção dos planejadores do potencial inerte aos padrões espaciais e sociais da colonização rural” e sua “meta geral é a de valorizar a situação nas regiões deprimidas; desvendar as pressões migratórias sobre os centros urbanos e acelerar a transição da agricultura tradicional para a agricultura moderna”. Estabelece um esboço conceitual que pressupõe: atividade agricultura ou sócio-econômica; incorporar meios funcionais; problematizar as adaptações culturais e sociais; não se prender as complexidades da colonização tradicional; a produtividades nas áreas adicionais; mais áreas para cultivo; direcionar o ciclo migratório para áreas que não os centros urbanos super-povoados; novos recursos e forma de crescimento no meio rural.
Enfim, trata das escalas, a moradia, a vila e o grupo inter-vila. Apropriadas pelos camponeses num nível de cooperação, podendo gerar crescimento econômico. Para isso seus objetivos são: 1) maximizar o número de famílias; 2) maximizar o emprego; 3) recreação e serviços; 4) ambiente social propício. A fazenda familiar, a comunidade e a região de colônias rurais, serão mecanismos de fortalecer os sujeitos em processos de: a) subsistência; b) subsistência e produção; c) especialização. De forma a valorizar os aspectos físicos, humanos e institucionais.
O autor, ao falar das experiências recentes, afirma que a colonização Européia é o modelo mundial rural. Logo, “o funcionamento e a evolução dos vários padrões de colonização podem ser melhor compreendidos pelo exame das mudanças espaciais ocorridas no passado”.
O caso de Israel – desenvolvimento rural integrado – é a síntese da experiência européia, dentro de um contexto geográfico, que gerou novos padrões de colonização: a) O mais antigo modelo de colonização densa e planejada (transplantada da Europa), onde a terra é distribuída aos colonos com os títulos de posse (fazendas grandes); b) Cooperativa de pequenos proprietários cada fazendeiro trabalha em sua própria parcela de terra e vive em sua sede; c) Sociedade coletiva e ideológica, onde a propriedade é dos próprios operários, que residem no seu centro, onde o lote é agregado a casa.
Na Itália, segundo o autor, o modelo de colonização é disperso, onde as desapropriações de latifúndios e loteamentos geraram o isolamento social das famílias agrícolas. Na Espanha “a ineficiência do minifúndio nortista e o desemprego crônico nas regiões de latifúndio têm causado baixos padrões de vida e pobreza, proporcionando o êxodo do setor mais jovem e mais dinâmico da população rural”. Mesmo assim existe um sistema de cooperação.
Por fim, é bom frisar, que no modelo de Israel a vila é parte de um grande sistema que permite expansão das atividades econômicas para além dos limites da própria vila, criando um modelo dinâmico, flexível, num estágio crescente de crescimento.
Na América Latina as características que são apontadas como: a ausência de avaliação da colonização de terras, problemas estruturais de serviços, padrões dispersos de concentração, o paternalismo dos esquemas de colonização, latifúndio, tendências os padrões agrícolas coletivos. Para organização espacial dos serviços rurais, Jacob, fala da necessidade de hierarquias, que estabeleçam áreas comunitárias, produtivas, Edu-cacionais e comercias, criando justaposições de sistemas rural e urbano.
Por fim, apresenta um modelo de colonização, estabelecendo critérios: minimi-zando distancias para o trabalho, custos de infra-estruturas, culturas, iniciativa individual e da família, pátio agrícola e flexibilidade de mudanças futuras na terra.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Resenha do Livro "América Latina fim do Milênio"

Roberto Segre, 1991

“América Latina fim do Milênio” trata do “desenvolvimento econômico, social e cultural da América Latina e a construção do espaço urbano e rural. Ou seja, a integração das obras “artísticas” ao processo complexo de produção geral do ambiente artificial e o relacionamento das distintas escalas do desenho, desde o território até o objeto artesanal ou industrial, numa tentativa de atingir uma visão globalizante identificada com o conceito de desenho urbano.” E mais “o debate sobre os significados de modernidade, identidade, tradição, cosmopolitismo e vernáculo não passa primordialmente pelos termos da expressão arquitetônica, pelo contexto social e econômico, ou seja pelas profundas contradições de classe ou pelo entrave ao desenvolvimento que a divida externa e a dependência para com os países industrialmente desenvolvidos constituem”. Então, o último “aspecto entre o projeto profissional e assimilação popular dos modelos da “alta” cultura, assim como a importância social das obras realizadas. Os habitantes das cidades latino-americanas não necessitam apenas de símbolos monumentais, mas, essen-cialmente de habitações, serviços e infra-estrutura técnicas que permitam melhorar a qualidade de vida das diferentes camadas sociais”.
Roberto Segre desenvolve um breve histórico da América Latina, passando pelos antecedentes históricos: 1) a complexidades do universo sócio-econômico; 2) a herança do período colonial; 3) esquema urbano (a trama); 4) o traçado viário; 5) os espaços públicos, semi-públicos e privados; 6) o sistema simbólico. Desta forma, estabelece não uma apologia simbólica, mas uma ambientação que não pode apagar mais de 400 anos de história.
A partir daí caracteriza o “entorno produtivo da dependência” analisando, as premissas conceituais, o entorno urbano e rural na produção da colônia, a renovação tecnológica das estruturas industriais (que levou ao desenvolvimento dos primórdios do hábitat proletário). Em resumo, o processo de industrialização da América Latina cria uma ruptura radical entre o hábitat rural e o urbano [proletários e camponeses]. O resultado desse processo são as construções dos primeiros conjuntos habitacionais.
No capitulo 5, Segre, desenvolve o tema da “tradição e renovação na arquitetura neocolonial”, analisando seus fundamentos teórico; a relação da arquitetura com a ideologia (Pág. 125); as contradições entre forma e conteúdo. Na analise dos componentes cultos e populares na arquitetura vernácula, Segre, cita Wright como exemplo de residências neocoloniais. No Caribe (Republica Dominicana e San Juan) a influência será percebida nas residências da classe média.
“A síntese entre a corrente neocolonial, as tradições vernáculas locais ou assimiladas através da experiência norte-americana e as inovações formais e espaciais do movimento moderno constitui uma das alternativas fundamentais da arquitetura moderna na América Latina, que conseguiu dar formas a elementos da sua própria identidade cultural ambiental”. [Lucio Costa, Rino Levi, Zanine, Severiano Mário Porto, são exemplo deste momento].
Depois da 2ª. Guerra, passaremos pela etapa dos grandes planos, como plano diretor de Buenos Aires, Havana, Cidade dos Motores-Brasil, Plano Diretor de Bogotá, projetos que seguiam as orientações do CIAM e da Carta de Atenas. Até chegar a “Brasília e a transformação do mito urbano” que conclui dizendo “hoje é indispensável estudar esse fenômeno e encontrar o ponto de articulação entre ação profissional e a ação espontânea da população, porque é impossível projetar uma cidade a partir de uma definição precisa de todos os seus componentes arquitetônicos, sem graus de liberdade para os usuários. Este é o problema que se deve enfrentar, em nossa realidade latino-americana, para encarar o desafio do século XXI: o vinculo entre projetistas e usuários, entre o “saber” profissional e o “saber” popular”.
Por fim, no capitulo 8, Segre define célula [residência] “como a dimensão individual da escala urbana”, analisando os valores simbólicos e funcionais, o conteúdo estético da habitação, a dimensão continental da pobreza, a integração da célula ao contexto urbano, portanto, “a célula original da cabana vitruviana integrou-se à cidade, é parte dela, e ao mesmo tempo, participante da riqueza expressiva de nossa cultura contemporânea. Já não é manifestação egocêntrica de um grupo social, a introversão segregativa do núcleo familiar na lonjura do subúrbio. A célula converte-se num fragmento multiplicado da estrutura urbana, no componente integrador da função habitar.” Completando, a isso, o capitulo 9, que diz respeito as estruturas do hábitat social. Portanto, a habitação como configuradora da trama urbana, até a construção da cidade alternativa. Em que “Essa atitude demonstra a imperiosa necessidade de chegar ao ponto de encontro entre o novo e o velho, entre tradição e inovação, a fim de conter a dinâmica dialética da vida cotidiana”, ao mesmo tempo em que esse movimento se dá é necessário recuperar os centros históricos das cidades.

domingo, 7 de outubro de 2007

Resenha do Livro "Evolução Urbana do Brasil"

Nestor Goulart Reis Filho, 1968
O livro trata da “evolução urbana no Brasil”, fazendo uma tentativa de mostrar que ela seguiu um plano de ocupação e que não é aleatória. Para isso, leva em conta vários exemplos históricos que comprovam essa análise, como o condicionamento do traçado, a existência de um plano de ocupação, e a relação ocupação e o plano, ou seja, se a comunidade aceitava ou não o plano e como se relacionava com ele.
Utiliza, também, dentro da metodologia, o conceito de “função urbana como função social. Por unidade do sistema social – ação, relação, posição, personalidade, emprego, instituição, camada, etc. – fenômenos sociais e desempenhar dentro deles ordem metodológica”. [Florestan Fernandes]. Analisa as funções urbanas como componentes do sistema global, conexão típica da função urbana. Contando que os centros urbanos são apenas componentes nucleares que, por isso, sua função está associada a esse contexto e a forma com que o individuo materializa essas funções [urbanismo moderno].
O autor ao caracteriza o Brasil colônia. Sua economia de exportação e toda a sua organização social, quer dizer: Latifúndio, mão-de-obra escrava, sociedade patriarcal, etc. Seu intuito é mostrar que o desenho urbano também está condicionado à colonização. Para corroborar com isso, apresenta diversas imagens dos principais centros do período (Salvador, Olinda e Rio de Janeiro) e as datas de fundação das vilas e cidades do Brasil. Essa analise vai até a descoberta do ouro pelos bandeirantes, e futuramente Minas Gerais, chegando até 1720, no primeiro conflito urbano.
Posteriormente, o autor discorre sobre como os núcleos urbanos se desenvolveram, uns pela dispersão, outros pela centralização e que esse sistema estava ligado ao sistema colonial internacional. E, que isso, gerou uma organização espacial específica, onde se aplicou a regularidade do traçado, ruas e praças que ligavam os domicílios aos edifícios públicos, preocupação com a aparência das praças e ruas (século XVII, por causa da maior utilização das ruas), quadras e lotes, bairros e zoneamento, construções e até a necessidade de monumentalidade, conseqüente, dos edifícios militares e religiosos, que desenharam o Brasil colonial.
Portanto, Nestor Goulart, afirma que “a urbanização no Brasil assumiu configurações específicas que não podem ser explicadas com empregos de modelos constituídos para análise da urbanização européia”. Seu estudo é bastante importante para caracterizar a dominação do espaço público pelos colonizadores. Na intenção de organizar e preparar as cidades para o seu futuro desenvolvimento.

Resenha do Livro "Planeta Favela"

Mike Davis, 2006

O “Planeta Favela” mostra uma realidade: pela primeira vez na história a população da Terra terá uma população urbana superior que a rural, o que acatará mudanças superiores que o Neolítico e a Revolução industrial, segundo Mike Davis. Essa transformação não se deu de forma como previam os arquitetos e filósofos, mas geraram uma enorme favelização das cidades, principalmente do terceiro mundo. (Vide China, Brasil e Índia).

Os estudiosos diziam que o crescimento das cidades se daria como o crescimento de Manshester e Berlim, porém a realidade demonstrou que esse se deu como o crescimento da Dublin vitoriana. Ou seja, hoje os barracos das favelas pós-modernas podem ter inveja das casas do início do século.
Na analise das políticas de Estado para conter o avanço do crescimento populacional, a primeira tentativa foi remover os assentamentos humanos e favelas, como podemos exemplificar nos casos da Cidade do México, Rio de Janeiro, Vietnã do Norte, África, Índia e China. Logo depois, ao perceber que o problema era inevitável a política internacional muda...
O Conselho de Washington aprova políticas de urbanização de favelas a partir das organizações não governamentais e indica o para os Estado do terceiro mundo a sua minimização. Em outras palavras, “urbanizar as favelas não destruí-las”. “Governância participativa” e “sinergia” eram as palavras de ordem. A junção do anarquista Jonh Turner e do presidente do banco central, Macnamara, gerariam essas políticas de “auto-ajuda”, que eram muito insignificantes se pensássemos nas necessidades da população do mundo todo.
A fase neoliberal, a partir de 1970, foi quando as favelas mais cresceram no mundo. E a maioria das iniciativas Estatais de habitação popular foi assimilada pela classe média, inclusive no primeiro mundo como o caso de Nápoles, na Itália. Junto a isso se agravam as condições de vida nessas favelas. O caso desenfreado de AIDS na África é bastante exemplar.
O terceiro mundo vive essa crise da superpopulação urbana. 46 paises do mundo estão mais pobres hoje do que no início da década de 90. Os financiamentos para políticas de limpeza de Centros comprovam que quanto maior esses investimentos maiores são as desigualdades. A desigualdade urbana já é maior que desigualdade rural. São Paulo de 1980 tinha 40% de empregos vindos da indústria, em 2004 só 15%. De 96 à 2001, 36 milhões de operários foram demitidos. Na índia o PIB cresceu 6%, o resultado foi 1 milhão de novos milionários e 56 milhões de mineráveis. Para a índia a década de 90 foi a pior para o povo pobre e somando-se a isso os preços dos cereais subiram 58% de 91 a 94. No Brasil a força de trabalho informal já alcançou 37%.
“O século XX não se tornou uma época de revoluções urbanas, como imaginou o marxismo clássico, mas de levantes rurais e guerras camponesas de libertação nacional sem precedentes”. “Marx ficaria provavelmente chocado se descobrisse como, nos países em desenvolvimento, parte tão grande da massa transbordante não consiste em proletários legais oprimidos, mas de pequenos empresários extralegais oprimidos”.
Por fim, Mike Davis, afirma: “A doutrina do Pentágono está sendo reconfigurada nessa linha para sustentar uma guerra mundial de baixa intensidade e duração ilimitada contra segmentos criminalizados dos pobres. Esse é o verdadeiro “choque civilizatório”.” Quer dizer: A sociedade agrária tende ao fim, e a sociedade urbana vai tomar todo o território, o que gerará conflitos de ordem locais desenfreados. O autor foge de uma tentativa de minimizar ou contornar esses impactos. Essa deveria ser ação dos arquitetos e urbanistas, somado a negação da construção de espaços de segregação e espólio da classe, que vive do seu trabalho; a classe trabalhadora, que é mais ampla – e sempre foi – do que o proletariado.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Resenha do livro "A cidade como um jogo de cartas"

Carlos Nelson, 1988.

O livro trata da história do planejamento urbano no Brasil, a partir da colonização, com intuito de gerar diretrizes para o planejamento das cidades de Roraima. “A cidade como um jogo de cartas” é uma metáfora sobre os jogos de poder que acontecem nas cidades com as regras das partidas e baralho.
No Brasil, os arquitetos e urbanistas vêm construindo padrões que seguem as seguintes orientações: Os valores são analisados em representações simbólicas e materiais e a partir dessas trocas e desses usos são feitas sínteses e análises. Essas, por sua vez, são, reciprocamente, geradoras de práticas positivas e teóricas, resultando por um lado “culturalismo”, onde os loteamentos são soluções, e por outro “racionalismo”, onde o conjunto habitacional é a resposta. Enquanto isso, a população analisa de outra forma: Os valores são chocados com os símbolos, representações e necessidades materiais. E a população faz a experiência entre os usos e as trocas na vida real.
As respostas a esse esquema só poderão ser sustentadas dentro de um propósito muito mais amplo de politização e democratização do conhecimento sobre espaço, que devem acontecer com aplicações, não sendo assim serão “puro diletantismo” teórico, afirma Carlos Nelson.
Portanto, “O especialista [do espaço urbano] deverá assumir um novo papel dentro dessa perspectiva. Ele é aquele que segue a partida com interesse, procura esclarecer dúvidas e pontos obscuros e funciona como mediador, aconselhando a atualização de estudos e modos de agir, à medida que verifique sua superação.” Então destrincha cada item do projeto urbano, da infra-estrutura as escalas de projeto. A rua, o lote, o bairro, enfim, a cidade.
Conclui afirmando que “há 50 anos somos modernos. O resto do mundo até já se converteu em um duvidoso pós-modernismo. Aqui, no entorno nem isso surgiu de forma convincente. Vivemos num estranho moderno de antigamente.” Ou seja, sua tentativa é afirmar os equívocos e esquemas dos projetos idealistas. Revelando a necessidade dos projetos serem vinculados à materialidade. Em outras palavras, propõe um “novo” racionalismo, que dê a devida atenção às escalas do projeto e a importância necessária ao profissional de arquitetura e urbanismo. Seu intuito é desmistificar que as escolas de planejamento tenham relações incomunicáveis, propondo um projeto vivo e ligado ao seu tempo.